O modo de comer é uma escolha, que costuma ser
baseada em um estilo de vida. O alimento está poderosamente conectado com as
emoções. A pessoa come o que gosta, o que sua cultura prescreve, mas também
existe marcante influência das emoções. O contato bucal com o seio é a primeira
conexão de prazer do bebê com o mundo. Muitas pessoas que tentam mudar seus
hábitos alimentares, pensando apenas na mudança em bases racionais, caem numa
armadilha, pois a alimentação tem significados que vão bem além da mera função
nutritiva. O alimento pode ser um condutor de afeto, mas torna-se problema
quando está substituindo confrontos, rejeições, etc. Para Brillat-Savarin
(1995) “ um dos privilégios da espécie humana é comer sem ter fome e beber sem
ter sede; de fato, os animais não podem ter esse privilégio, que nasce da
reflexão sobre o prazer da mesa e do desejo de prolongar sua duração”
Hábitos e Zona de Conforto - Ao procurar evitar
situações incômodas, existe uma tendência da pessoa de procurar um lugar seguro
e familiar, onde sinta menos dor, medo, insegurança e tédio. E a procura chega
a um lugar, que é a “zona de conforto”. Fazem parte da zona de conforto:
comidas doces, cigarros, álcool, drogas, compras excessivas, dormir demais, uso
excessivo de celular, de computador, televisão (ficar zapeando sem prestar
atenção, só para descarregar ansiedade). Para manter a zona de conforto às
vezes aparece mais um comportamento complicador: a necessidade de agradar, de
atender as expectativas dos outros. Por exemplo, beber para agradar, comer para
agradar. Isto fica particularmente complicado quando se faz parte de uma
família “engordativa”, dada a festas frequentes e com mesa farta.
As pessoas obesas têm comportamentos comuns:
comem escondido, minimizam as calorias e jamais admitem a própria gula; passam
da abstinência absoluta para a voracidade com grande rapidez. Estão sempre “em
dieta” ou pretendem começá- la na “próxima segunda-feira”.
As facilidades da vida moderna aumentam o número
de obesos, pois as pessoas comem na hora em que têm vontade: a comida está
disponível durante o ano todo e o espaço entre as refeições tem diminuído
sensivelmente. A alimentação atual é muito rica em carboidratos e gorduras.
Além disso, nota-se a diminuição progressiva da atividade física cotidiana, à
custa de televisão, videogame, elevador, carro, computador, o sedentarismo em
geral. A seguir, as principais causas psicológicas dos “ataques de comer”:
• Estresse, tensão, ansiedade, medo,
impaciência;
• Depressão ou melancolia;
• Cansaço e falta de energia;
• Necessidades não satisfeitas de alegria, jogo,
excitação, ou recreação; trabalho excessivo e pouco divertimento;
• Desejo por amor, afeto, romance, ou satisfação
sexual;
• Raiva, ressentimento, amargura, ou frustração;
• Sensação de vazio, insegurança, ou um desejo
de conforto.
Ambiente e rotina na obesidade
Ambiente obesogênico é o ambiente promotor de
obesidade. Ele promove o acesso amplo e facilitado a alimentos de alta
densidade energética, repletos de carboidratos e gorduras e pobres em
micronutrientes. Algumas famílias são obesogênicas, na medida em que
desconhecem ou desprezam regras de alimentação saudável e de prática de
atividades físicas. O ambiente obesogênico pode, inclusive, estar relacionado
às eventuais companhias: a presença de outras pessoas pode proporcionar aumento
da quantidade de alimento consumida e do teor calórico total da refeição.
Rotina obesogênica - A rotina diária da mulher
costuma ser extremamente desgastante em dois tipos de situação. Uma delas diz
respeito à dona de casa (que não trabalha fora), e que tem uma rotina
frequentemente tediosa, pois suas funções não passam de realização das tarefas
domésticas (lavar, passar, cozinhar) e cuidar das crianças; ninguém costuma
valorizar seu esforço, e, além disso, não tem nada para contar (ao marido, por
exemplo) no final do dia, pois os eventos são normalmente repetitivos e pouco
ou nada emocionantes. É uma das profissões mais “engordativas” que existem
(Kaufman, 1993): pouco valorizada, mal recompensada, às vezes desprezada, é na
cozinha que ela se refugia para armar suas trincheiras contra o tédio, a
depressão e o amargo sentimento crônico de inutilidade. Se o casamento não lhe
fornece a sonhada gratificação sexual e afetiva, recorre à comida no papel de
substituto. O outro tipo de desgaste pela rotina tem a ver com a mulher que
trabalha fora de casa, uma executiva, por exemplo: ela tem que fazer frente a
uma série de grandes responsabilidades, praticamente sem intervalos, sendo que
às vezes o próprio almoço é feito ao lado do computador ou no restaurante, o
tal “almoço de negócios”, que é mais uma “zona de tensão”, e onde amiúde não é
fácil lembrar-se de dieta, de contagem de pontos, de aspectos emocionais, etc.
A este respeito, a psicanalista argentina Liliana Saslavski comenta as demandas
feitas à mulher moderna:
Ser eternamente adolescentes, mas ao mesmo tempo
ser mães adultas; ser fisicamente jovens, mas com a experiência da maturidade;
mostrar um corpo esbelto, bonito, atraente e ao mesmo tempo serem inteligentes,
hábeis, astutas; ser sexies e passionais e ao mesmo tempo autocontroladas;
brindar uma imagem hedonista e ao mesmo tempo de autodisciplina são, em
síntese, algumas das demandas contraditórias que são feitas à mulher moderna.
Como atender a estas ordens da cultura?
A rotina do homem pode também envolver trabalhos
pouco apropriados à criatividade: burocratas em geral, cujas funções são
monótonas e repetitivas, de modo que o horário do lanche é o mais esperado do
dia.
Para uma doença tão multifatorial é necessário,
portanto, um tratamento interdisciplinar, que possa promover o emagrecimento e,
sobretudo, a manutenção do peso, uma vez que a manutenção é, em alguns casos,
mais difícil de ser bem sucedida do que o próprio processo de emagrecimento.
Obesidade e Sexualidade Feminina
Dentre os vários problemas decorrentes do fato
de ser obeso(a), percebemos que são atingidas áreas sensíveis da existência
humana, como infidelidade, insatisfação sexual, raiva e, a coisa mais
importante e dolorosa, o medo de ser um fracasso como pessoa.
Algumas mulheres fazem uma ligação inconsciente
entre comer doce e o prazer sexual. Elas falam em “orgasmo gastronômico” ao se
referirem aos prazeres proporcionados por suas comidas prediletas. Existe
relação entre comer exageradamente e sentir frustração sexual. Nem todas as
pessoas sexualmente frustradas comem exageradamente, mas o inverso é
verdadeiro: as que comem de forma compulsiva não se sentem sexualmente
gratificadas (com sensação de plenitude, calma e satisfação). A pessoa
sexualmente realizada tem um contato satisfatório com seu corpo, percebe as
suas necessidades e procura racionalmente atendê-las. A falta do prazer sexual
leva a pessoa a rejeitar seu corpo e a reduz a uma dependência infantil em
relação à comida, que passa a ser a única forma de satisfação corporal.
Várias mulheres, ao se tornarem adultas,
engordam com medo de serem transformadas em objetos sexuais; algumas ficam
obesas, como forma de neutralizar sua identidade sexual perante as outras
pessoas; para estas, o peso constitui-se uma proteção, um escudo, por trás da
qual se escondem. Engordar após o casamento é um fato bastante comum; é
extremamente raro ver um casal que caiba nas roupas da lua-de-mel após alguns
anos das bodas. Sentindo-se mais segura por considerar-se “garantida”, a mulher
abandona os sacrifícios do regime restritivo para “premiar-se” com as
guloseimas que aprecia, mas era obrigada a privar-se anteriormente. Além da
parte sexual propriamente dita, as relações conjugais frequentemente são insípidas,
sem sabor, ou tornam-se dramaticamente infernais. Insípidas, quando o
relacionamento é vivido no clima do faz-de-conta; infernais, quando os
parceiros colocam-se mutuamente exigências difíceis de serem atendidas. Às
vezes, o peso da mulher é o principal assunto de sua vida conjugal. Pode até
acontecer de ela não emagrecer como forma de demonstrar resistência à vontade
do marido. É claro que seu corpo se transforma num campo de batalha, mas esta
mulher parece estar querendo se convencer de que é melhor ser “gorda e
independente” do que “magra e submissa”.
A insatisfação conjugal pode chegar a um ponto
em que as carências emocionais e sexuais são confundidas com a fome física, e
assim podem ser atendidas concretamente, ainda com a vantagem de não depender
de ninguém (como o marido) para se satisfazer. “Um mau casamento é tão
engordativo como um sundae com calda de chocolate” (Stuart & Jacobson).
Muitas mulheres, de forma consciente ou inconsciente, engordam como tentativa
de inibir o desejo sexual do marido e também o seu próprio interesse sexual.
Isto ocorre, sobretudo, em três tipos de situações: quando o marido é muito
gordo e sua obesidade causa repugnância à mulher; quando a vida sexual do casal
torna-se extremamente rotineira e monótona; e quando o marido é desinteressado
sexualmente. Engordar, para manter o marido à distância e evitar o sexo,
curiosamente não acontece nos casamentos mais infelizes (nos quais é mais fácil
dizer “não!”, além de que os maridos também já não estão interessados em sexo),
mas nos casamentos medianamente infelizes, onde a estabilidade da relação
parece ser mais importante do que o amor-próprio e do que o próprio corpo. Há
mulheres que engordam muito a partir da gravidez, não só pelas questões
hormonais envolvidas, mas porque psicologicamente trocam o “papel de mulher”
pelo “papel de mãe”, isto é, a mãe deve permanecer “o mais virgem possível”, e
engordar é uma forma de manter essa “virgindade”.
Para uma doença tão multifatorial é necessário,
portanto, um tratamento interdisciplinar, que possa promover o emagrecimento e,
sobretudo, a manutenção do peso, uma vez que a manutenção é, em alguns casos,
mais difícil de ser bem sucedida do que o próprio processo de emagrecimento.
beijos
Carol Foltran
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